conto de esperteza – Ricardo Azevedo
Dois homens, fugidos da prisão, pararam na beira da lagoa para matar a sede e descansar um pouco.
Um sapo dormia debaixo da samambaia. Os bandidos agarraram o sapo.
- Olha que desengonçado! - disse um deles, apertando o bicho entre os dedos.
- É feio que dói! - completou o outro, com cara de nojo. E os dois resolveram fazer maldade.
- Vamos jogar no formigueiro?
Ouvindo isso, o sapo estremeceu. Por dentro. Por fora, abriu um sorriso indiferente.
- Que nada - respondeu o outro, percebendo que o sapo não estava nem ligando. - Pega a faca. Vamos picar ele todinho. O sapo, de olhos fechados, começou a assobiar uma linda melodia.
Os dois bandidos queriam dar um jeito de fazer o sapo sofrer.
- Sobe na árvore e atira ele lá do alto.
- Pega um fósforo e acende uma fogueira.
Vamos fazer churrasco de sapo!
O sapo espreguiçava-se tranqüilo entre os dedos do homem. Um dos bandidos teve outra idéia.
- Já sei! Vamos afogar o desgraçado na lagoa!
Foi quando o sapo deu um pulo desesperado começou a gritar:
- Tudo menos isso!
Os malfeitores, agora sim, tinham chegado onde queriam.
- Vai pra água, sim senhor!
- Não sei nadar! - berrava o sapo.
- Então, vai morrer engasgado!
O bicho esperneava:
- Socorro!
-Vai sufocar de tanto engolir água!
-Não
-Vai virar comida de jacaré !
- Tenho mulher e filhos pra cuidar!
- Joga bem longe!
- Me acudam!
- Lá vai!
O homem atirou o sapo no fundo da lagoa. O sol estava redondo.
O sapo - ploft - desapareceu no azul bonito das águas.
Depois voltou risonho, mostrou a língua e foi embora nadando e cantando e dançando e requebrando n'água, feliz da vida.